O armador de pesca Manuel Palmas Bragado, de 68 anos, captura atum há mais de 30 anos, idade média da frota pesqueira industrial do estado do Rio de Janeiro, segundo o sindicato da categoria. Nascido na Espanha e naturalizado brasileiro, Manuel, que chegou ao Brasil na década de 80, agora é personagem de uma importante conquista para o setor pesqueiro fluminense: ele é proponente do primeiro projeto de crédito destinado à modernização de uma embarcação da pesca industrial local. A proposta, entregue esta semana ao Banco do Brasil (BB), objetiva um empréstimo de cerca de R$ 800 mil para a modernização da Palmas II, uma das quatro embarcações do empresário, adquirida há mais de 20 anos; e abre precedentes para que outros profissionais solicitem o crédito para reforma ou compra de barcos destinados à pesca industrial.

- É a primeira vez que eu faço um empréstimo. Se tudo der certo, será uma ótima oportunidade de investimento, o que é muito importante para ter lucro nesse setor - diz o armador, que emprega 75 pescadores, sendo 25 só na embarcação a ser reformada.

Elaborado por técnicos da Fundação Instituto de Pesca do Estado do Rio de Janeiro (Fiperj), vinculada à Secretaria de Estado de Desenvolvimento Regional, Abastecimento e Pesca (Sedrap), o projeto, no entanto, não seria viável sem o diálogo iniciado em 2013 entre a Fundação, o Sindicato dos Armadores de Pesca do Estado do Rio de Janeiro (Saperj) e o Banco. É o que explica o assessor técnico da organização sindical, comandante Flávio Leme.

- Só essa etapa de aceitação do projeto pelo Banco, que ainda vai analisar a linha de crédito a ser empregada para liberação do recurso, não seria possível sem a inclusão da atividade de pesca industrial nos registros da entidade financiadora. Cadastramos duas modalidades do segmento: vara e isca viva (que é o caso do atum) e arrasto, e estamos finalizando a terceira: espinhel de fundo. O Banco precisava de um referencial da atividade (RTA) para realizar esse tipo de empréstimo, então a Fiperj e o Saperj disponibilizaram números de produção, valores empregados, dados de despesas e receitas - informa.

Agora, profissionais do setor podem ter acesso ao Plano Safra, que financia projetos de incentivo ao aumento da produção e geração de renda em todo o país, com taxas de juros reduzidas e prazos de carência maiores.

- É muito importante esse apoio a quem produz, a quem gera emprego e renda no estado. A Fiperj está à disposição para auxiliar outros associados do Saperj interessados na elaboração de projetos de crédito - destacou o presidente da Fundação, Essiomar Gomes.

Para Leme, trata-se de um grande passo para atender uma demanda antiga da categoria no que diz respeito à defasagem da frota industrial: “A renovação é fundamental não apenas para a segurança, como para a melhora das condições de trabalho da tripulação e do desempenho de pesca, aumentando a rentabilidade da embarcação”.

Que o diga seu Manuel, um dos pioneiros da pesca do atum (bonito-listrado) no estado. Segundo ele, a expectativa com a reforma é aumentar o volume pescado de cerca de 700 toneladas por ano para mais de 1.100 toneladas. Hoje boa parte do que é capturado por seu Manuel abastece o parque industrial nacional, que gera 1,2 milhão de latas de atum por dia.

O secretário de Estado de Desenvolvimento Regional, Abastecimento e Pesca, José Luiz Anchite, elogiou a iniciativa. “Isso para nós é histórico, pois sabemos o valor desse setor que cresce cada vez mais. Fico muito feliz e parabenizo o empresário Manuel Palmas que será o primeiro a receber o financiamento”, afirmou.

Participaram ainda da reunião o gerente de relacionamento do BB, Felipe Campos, os subsecretários Sebastião Rodrigues (de Estado) e Valdecir Ramiro (Pesca), o diretor de Pesquisa e Produção da Fiperj, Augusto Pereira, a coordenadora de Extensão da instituição, Maria de Fátima Valentim, o extensionista Bruno Plastina, que assinou o documento entregue ao Banco, entre outros servidores da entidade envolvidos no projeto.